Possibilidades de diálogo entre pesquisa acadêmica e Educação Básica
Proposta de trabalho 1: Relação da pesquisa sobre os marfins de procedência africana com conteúdos propostos pela BNCC (Ensino Fundamental I)
Disciplina: Artes
Etapa de Ensino: 1º ao 5º Ano
Habilidade a ser desenvolvida/trabalhada de acordo com a BNCC:
(EF15AR25) Conhecer e valorizar o patrimônio cultural, material e imaterial, de culturas diversas, em especial a brasileira, incluindo-se suas matrizes indígenas, africanas e europeias, de diferentes épocas, favorecendo a construção de vocabulário e repertório relativos às diferentes linguagens artísticas.
Possibilidades de trabalho a partir da pesquisa sobre os marfins de origem africana:
Identificar os diferentes tipos de objetos, feitos em marfim africano, que estão expostos em diferentes museus do mundo;
Texto de referência: ALVES, R. C. Fascinante marfim: a circulação dos objetos em marfim de origem africana (Angola, Portugal e Brasil, séculos XVIII E XIX). Revista Ars Histórica, v. 14, p. 137-156, 2017.
A proposta de trabalho direcionada para os anos iniciais do Ensino Fundamental, no ensino de Artes, propõe demonstrar aos estudantes parte do patrimônio material artístico de procedência africana, a partir dos objetos em marfim que se encontram expostos em diferentes museus do mundo. Neste sentido, partimos da premissa de que o Ensino de História e Culturas da África, em especial das artes africanas, é muitas vezes rejeitado ou omisso no currículo escolar, por partilhar de fragilidades mais amplas, que vão desde uma perspectiva colonizada dos currículos, passando pelo racismo estrutural e alcançando até mesmo justificativas psicológicas, como defende Alain de Botton e John Armstrong:
"Rejeitamos muitas experiências, pessoas, épocas e lugares que têm algo importante a oferecer porque vêm na embalagem errada e assim não conseguimos criar uma ligação. Somos vítimas de julgamentos superficiais e preconceituosos. Consideramos as coisas estranhas numa atitude defensiva demais (2014, p. 64)."
Assim, consideramos fundamental que a proposta efetiva de Ensino sobre a História da África se faça abrangente no currículo escolar e supere propostas pontuais de abordagens, como datas comemorativas. A etapa de preparação de uma atividade como a que propormos requer do professor uma pesquisa prévia por fontes e bibliografias sobre os objetos artísticos produzidos em marfim, cuja procedência é africana. Sugerimos ao professor, a leitura do artigo Fascinante marfim: a circulação dos objetos em marfim de origem africana (Angola, Portugal e Brasil, séculos XVIII E XIX) (Acesse por aqui), como forma de introdução ao estudo da temática.
O segundo passo desta proposta seria uma pesquisa por referências visuais destas obras e um pouco de pesquisa sobre a origem das mesmas: em qual região do continente africano foram produzidas, em qual período da história... Sugerimos também que se monte, no formato possível e adequado à realidade do educador e de seus estudantes, uma apresentação visual das obras. As principais produções artísticas em marfim são os saleiros, as colheres e os olifantes. Mas há também máscaras, braceletes, pingentes e outros objetos de origem africana elaborados nesta matéria-prima. Vale a pena uma pesquisa também sobre o uso destes objetos. Acesse aqui a nossa pasta no Pinterest com inspirações visuais destas obras de arte.
A partir da apresentação visual destas obras, pode-se elaborar uma série de atividades, melhor trabalhadas de acordo com a faixa etária da turma e de seu desenvolvimento. É possível, por exemplo, solicitar às crianças que criem, a partir das inspirações visuais apresentadas, um desenho com a sua versão dos objetos em marfim, estimulando a criatividade para o trabalho com cores e formas. Ainda é possível estabelecer uma reflexão sobre a origem do marfim (presas dos elefantes) e sobre a caça destes animais, no passado e ainda hoje, enfatizando aspectos da Educação Ambiental. Outra possibilidade é localizar num mapa do continente africano as principais sociedades que trabalhavam o marfim artisticamente, contribuindo para o desenvolvimento da alfabetização cartográfica e demonstrando também, desde já, que a África é um continente.
A concretização de uma proposta como esta requer, essencialmente, pesquisa e estudo — premissas do trabalho educativo em qualquer área do conhecimento. No caso da História do continente africano, a necessidade de estudos é amplificada por uma escassez de materiais de origem científica e confiáveis. Mas cabe a nós, pesquisadores e estudantes desta temática ampliar os espaços de diálogos e difundir informações de caráter educacional e científico — um passo importante para ampliar o conhecimento e debate sobre a temática.
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