O projeto "Ver e Olhar a cidade" desenvolvido com meus estudantes da graduação em Pedagogia tem por objetivo principal, fazê-los refletir sobre as mudanças de concepção no ver e olhar determinados locais. A partir de uma experiência visual diferenciada, é proposto que passem a observar os locais cotidianos por onde circulam, sob outras lentes da percepção, se atentando para o pungente ensino de História e também de Geografia que esta observação pode despertar.
Este exercício de observação leva-nos também a questionar e a pensar como determinados lugares foram modificados ao longo do tempo, através da ação humana. Uma cena divertida do longa-metragem romântico "Kate e Leopold", instiga nossa imaginação neste sentido. No filme, Leopold (interpretado por Hugh Jackman) é um duque do século XIX que acidentalmente viaja no tempo e vem parar na Nova Iorque contemporânea, dos anos 2000. Impressionado com as mudanças visuais sofridas pela cidade, Leopold que havia testemunhado a inauguração da ponte do Brooklyn, em 28 de abril de 1876, fica boquiaberto ao reencontrar a ponte, em 2000. Marina Frid, em artigo que analisa o filme e os conceitos que podem ser trabalhados a partir dele, chama a nossa atenção para a suspensão do tempo histórico evocada pelo enredo do filme. Sabe-se, por exemplo, que a ponte do Brooklyn foi originalmente inaugurada em 1883. Mas para além destas observações ligados ao tempo histórico e cronológico, é interessante pensar nas transformações do espaço ao longo do tempo.
Em 2018, quando visitei Lisboa pela primeira vez, não pude deixar de pensar num paralelo histórico entre as fontes documentais que pesquiso e a conservação de determinados lugares na cidade portuguesa. O que mais despertou minha imaginação e atenção foi a chamada Praça do Comércio. A praça foi construída onde estava o Palácio Real antes de ser destruído pelo grande terremoto de 1755. A fisionomia da Praça do Comércio é formada por um conjunto de edifícios instalados em três dos seus lados e está aberta do lado sul, olhando ao Tejo. Historicamente ali chegavam os barcos mercantes e essa era a porta de Lisboa.
Perto da praça, na margem do rio, está a estação fluvial Cais de Sodré, de onde saem as excursões pelo Tejo e os barcos que cruzam o rio.
Impossível estar neste lugar e não imaginar o quanto ele mudou ao longo do tempo. Convide seus estudantes para este exercício, que pode ser executado em lugares históricos da própria cidade em que habitam. Essa é uma oportunidade e tanta de educar o olhar histórico.
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