Passa bonde passa boiada
Passa trator, avião
Ruas e reis
Guajajaras Tamoios Tapuias
Tupinambás Aimorés
Todos no chão
A cidade plantou no coração
Tantos nomes de quem morreu
Horizonte perdido no meio da selva
Cresceu o arraial
(Música Ruas da Cidade, de
Milton Nascimento)
A epígrafe deste texto é uma canção de autoria de Milton Nascimento, que fala sobre o processo de urbanização de Belo Horizonte. A canção foi gravada no disco "Clube da Esquina 2, lançado em 1978 e pode ser ouvida no link:
Essa canção pode muito bem ser utilizada nas aulas de geografia e história para os anos iniciais, em especial para os educadores que trabalham em Belo Horizonte e região metropolitana. Belo Horizonte tem 324 avenidas e 11.598 ruas. E seria possível um trabalho pedagógico sobre os lugares de memória desta capital?
A fotografia que ilustra esse post, é de autoria do fotógrafo belo-horizontino Wilson Baptista, que possui uma série de mais de 30.000 registros fotográficos sobre Belo Horizonte, entre as décadas de 30 e 60. Há uma mostra de 44 fotografias de Wilson, em exposição no Câmera Sete - Casa da Fotografia de Minas Gerais, até o dia 25/05. Saiba mais em: http://fcs.mg.gov.br/eventos/wilson-baptista-urbano-fotografico/
O conceito de lugar de memória é de autoria de Pierre Nora, historiador francês, e aparece pela primeira vez na obra Les lieux de mémoire, por ele dirigida e originalmente publicada entre 1984 e 1992. Pierre reflete sobre a existência de lugares, que chama de lugares de memória e constrói um raciocínio explicativo sobre a necessidade humana de se criar esses referenciais, que são materiais, simbólicos e funcionais. Veja um texto do autor, traduzido em língua portuguesa e disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/viewFile/12101/8763.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no componente História, para os anos iniciais da Educação Básica, a temática dos lugares de memória pode ser trabalhada no 3º ano, dentro da unidade temática "O lugar em que vive", cujo objeto de conhecimento é a produção dos marcos da memória: os lugares de memória (ruas, praças, escolas, monumentos, museus etc.). A habilidade proposta nesta unidade é: (EF03HI05) Identificar os marcos históricos do lugar em que vive e compreender seus significados. Neste sentido, um trabalho sobre a origem dos nomes das ruas e avenidas do bairro no qual se localiza a escola ou sobre os bairros nos quais os estudantes residem seria uma boa alternativa. Caberia, neste sentido, uma reflexão sobre as origens destes nomes: são indígenas, africanos ou homenageiam pessoas? Quem seriam essas pessoas? É possível contar a história destes lugares a partir dos nomes que receberam?
Um programete produzido pela Rádio Itatiaia, em 2018, conta a história de algumas ruas de Belo Horizonte e pode ser ouvido pelo site da Rádio, disponível em: http://www.itatiaia.com.br/noticia/em-ruas-e-suas-memorias-itatiaia-conta-a-hist
Outro instrumento interessante para fomentar o debate sobre esse tópico, é o trabalho desenvolvido pela prefeitura de São Paulo, desde 2015. Trata-se da iniciativa "Ruas de Memória”, projeto criado para promover o debate público sobre os crimes da ditadura civil-militar a fim de alterar, definitivamente, o nome de espaços públicos que homenageiam torturadores e violadores dos direitos humanos que agiram durante este período da história. A mudança depende de Projetos de Lei que precisam ser aprovados pela Câmara de Vereadores do município. Para que a lei se efetive, a Coordenação de Direito à Memória e à Verdade da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), responsável pela iniciativa, tem criado estratégias, em diálogo com a sociedade civil, para sensibilizar a população sobre a importância de retirar esses símbolos da cidade. Saiba mais em:
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/direitos_humanos/noticias/?p=196537 e https://www.youtube.com/watch?v=DUIv1sSg5pw.
Dentro desta perspectiva, também é possível realizar um trabalho interdisciplinar com o componente curricular Geografia. Esse será o assunto do próximo post, aguardem!
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